domingo, 3 de maio de 2009

O Garoto com Dois Rostos

Olliver nasceu no ano de 1840, no país da imaginação, sempre foi um garotinho educado e engraçado, sua infância foi repleta de pureza. “Mas que garotinho doce aquele” todos diziam, como ele era elogiado, afinal são poucos aqueles que Deus abençoou com o dom esplêndido de denotar vida para um simples pedaço de papel. Como esse garoto era fofinho, um verdadeiro encanto ao escrever e ao se expressar, sempre sorria com os olhares de admiração que causava naqueles que o viam escrever, pois não estavam habituados a verem rabiscar o papel de ponta cabeça ou com o caderno posto de lado. Era de seu conhecimento que espécie como ele eram raridades, em sua época, porquanto no seu país pessoas canhotas estavam se extinguindo. Confessa a história que cérebros de pessoas como este pequeno são complexos, eles sempre foram incompreendidos, portanto as características resumem-se a uma minoria. Definitivamente eles são julgados como amaldiçoados, logo ignorado em certos aspectos, fato típico dos seres humanos.
Este anjo de imaginação fértil sempre foi apaixonado por cavalos, para ele era fascinador imaginar cavalos alados, logo se presume que seu conto de ninar favorito era Cavalo de Fogo. Ele sempre soube que cavalos alados voam na água, afinal ele residia no país da imaginação. Óh criança desejada, escondia um grave segredo, tinha dois rostos e um deles era manchado de tinta preta, era só vidrá-lo e uma sensação estranha pairava, não conseguia reter as lágrimas, entrava em desconceso, um rostinho delicado e doce com um enorme borrão estampado. Por esse motivo o ocultava, deixando sempre visível o outro rosto perfeito que tinha pelo fato de lhe ser conveniente. Ele espremia sempre medo e cólera, esse era o seu trunfo, era a sua estratégia de defesa. E assim essa mentira ardilosa se alastrava e o consumia de forma desgastante. Olliver adorava caminhar pelos jardins de nuvens, lá ele podia se encontrar e pensar com clareza, esse lugar deslumbrante possibilitava isso.
Em um desses seus passeios costumeiros, um evento inesperado ocorreu, em um lugar longícuo, ele pode ver uma árvore obscura e solitária, já tinha ouvido rumores que era proibido aproximar-se deste lugar cinzento. Lá não haviam nuvens macias no chão, mas sim um solo sem vida, definitivamente nunca houve alegria exprimível ali, somente vestígios de melancolia e sofrimento. A fobia do desconhecido e o desejo percorriam por cada poro do seu corpo, este sentimento estava solidamente fechado internamente. Um som quieto veio através do vento, tão incrivelmente encantador, uma espécie de magnetismo sonoro, a irresistível ânsia se sobrepôs ao medo e de forma suave ele caminhou em direção ao som sutil, porém lívido. A árvore exalava medonhamente um misto de sentimentos, o pobre garoto entregou-se de forma absoluta, estava hipnotizado, ali o inconsciente prazeroso adormeceu em sua alma.
Duraram alguns minutos esse prazer ao extremo, aproximadamente 10 minutos, após isso o som cessou, nada se ouviu por um momento. O silêncio completo só foi quebrado por gritos agudos, horríveis e angustiantes, Olliver caiu no chão e com um esforço sobre-humano tentou proteger os ouvidos com suas frágeis e pequenas mãos, o desespero era tamanho que os olhos encovados saiam de órbitas. Com a pouca força que lhe restara, se levantou e produziu uma tentativa de fuga, que logo mais falhara, pois algo o havia impedido de escapar, ao correr os olhos para encontrar a causa, se viu cercado por mãos pálidas e sangrentas, notou que uma delas agarrava suas pernas, ele soltou um grito dilacerante, contudo inútil. De forma estranha elas emergiam e submergiam do podre solo, em movimentos não sincronizados e ágeis, os toques eram destruidoramente gelados.
O menino relutava com perseverança para se desvencilhar, entretanto grande era a rapidez dos movimentos que mal podia tocá-las, só sentir o gelo causar graves ferimentos em seu corpo. A agonia do garoto era crescente a cada segundo assombrado. Duas gotas de sangue foi o que ele sentiu escorrer de seu rosto e pingarem em sua perna machucada, trêmulo passou a mão, o coração disparado pareceu petrificar, com o pânico de proporção gigante sentiu a sua mão banhada, a vista do sangue o enlouquecera, percebeu que havia quebrado o seu rosto, tomado pelo sinistro, chorando soltou um grito estridente de martirizar, sua visão escureceu, desmaiou e por ali permaneceu. As mãos cadáveres foram se amotinando sobre seu corpo, elas serpenteavam suavemente, formando assim, um emaranhado de mãos, lentamente o solo foi se diluindo e mergulhando Olliver cada vez mais para o abismo.
Ao escurecer, atormentado com a atrocidade ele desperta, e nada havia ali, além dele, a árvore, e seu medo, olhou ao seu redor e tudo o que pode sentir foi o silêncio típico, percebeu então que havia caído em seus devaneios, deslizou a mão pelo rosto destruído, sofreu uma paralisia temporal, assombrado vislumbrou a reação de todos ao visualizarem seu único rosto, estupefato se sentiu incapaz de retornar, se estabeleceu naquele local, sentiu a sua vida suspensa por um fio de nada, onde bastava um sopro para ser destruída...






2 comentários:

  1. Todos nós temos um pouco de Oliver;

    Muitos de nós, em alguma circunstancia, temos uma das "faces quebradas";

    Poucos de nós conseguem ver a perda de uma das "faces" como uma solução e não um problema. Espero que aquele garotinho doce consiga!

    ResponderExcluir
  2. q estória interessante,talvez seu personagem seja um produto qualificado q o própio desconhece. muito rico em detalhes surreais dos tempos atuais. amei o desejo,muito fofo hahaha (L)

    ResponderExcluir